sábado, 12 de setembro de 2015

Outubro

     "Nesse momento, os sinos começaram a dobrar a finados. O coronel esquecera-se do enterro. Enquanto a mulher tomava o café, desprendeu a cama da rede por uma das pontas e enrolou-a pela outra, para trás da porta. A mulher pensou no morto.
     _ Nasceu em 1922 _ disse ela. _ Exatamente um mês depois do nosso filho. A sete de Abril.
     Continuou a sorver o café nos intervalos da sua respiração ofegante. Era uma mulher constituída apenas de cartilagens brancas por cima de uma espinha dorsal arqueada e inflexível. As perturbações respiratórias obrigavam-na a perguntar afirmando. Quando terminou o café ainda estava a pensar no morto.
     _ Deve ser horrível estar enterrado em Outubro _ disse. Mas o marido não lhe prestou atenção. Abriu a janela. Outubro já se tinha instalado no pátio."

(Ninguém Escreve ao Coronel, Gabriel García Márquez)
.
.
.
Outubro está instalado aqui dentro já faz algum tempo...
.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário