segunda-feira, 27 de novembro de 2017

"Sister, remember your name..."

Não me admira essa música estar na minha cabeça desde ontem, desde antes de eu saber realmente o que se passava... minha tia amada... minha terceira mãe... minha irmã numa dessas vidas passadas, quem sabe... mãe vivia confundindo nossos nomes, por incrível que pareça, e enquanto eu dava risadas, ouvia sempre ela dizer, em cada uma das vezes: "você e Elza só podem ter alguma ligação de uma outra vida!", e eu ria, ria... Pois hoje pedi ao meu pai que imprimisse pra mim a letra de "Miss Celie's Blues", uma das minhas músicas favoritas no mundo... e ele imprimiu também a tradução. A composição, ao que tudo indica, é de Quincy Jones. E sabe quando você canta mas não presta bem atenção ao significado da letra? Pois hoje meus olhos bateram direto na tradução. E quanta coisa de nós duas eu vi ali... até a estrada escura e solitária daquele meu sonho está ali. Eu não sei, mas já vivi tempo demais, "and I've seen a lot of suns goin' down" pra acreditar, a esta altura da minha vida, em "acasos" e em "coelhinhos da Páscoa". Por isso eu digo a você...

"Sister,
you've been on my mind
Sister, we're two of a kind
So sister,
I'm keepin' my eyes on you
I betcha think
I don't know nothin'
But singin' the blues
Oh sister, have I got news for you

I'm somethin'
I hope you think
that you're somethin' too

Oh, Scufflin',
I been up that lonesome road
And I seen a lot of suns goin' down
Oh, but trust me
No low life's gonna run me around


So let me tell you somethin' sister
Remember your name
No twister
is gonna steal your stuff away
My sister
We sho' ain't got a whole lot of time
So shake your shimmy,
Sister
'Cause honey this 'shug
is feelin' fine"


Composição: Quincy Jones
Track art
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Lyrics
Sister, you've been on my mind
Sister, we're two of a kind
So sister, I'm keepin' my eyes on you
I bet you think I don't know nothin'
But singin' the blues
Oh sister, have I got news for you
I'm somethin'
I hope you think that you're somethin' too
Scufflin', I been up that lomesone road
And I seen a lot of suns goin' down
Oh, but trust me
No low life's gonna run me around
So let me tell you somethin' sister
Remember your name
No twister, gonna steal your stuff away
My sister
Sho' ain't got a whole lot of time
So shake you shimmy,
Sister
'Cause honey I sure is feelin' 
Track art
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Lyrics
Sister, you've been on my mind
Sister, we're two of a kind
So sister, I'm keepin' my eyes on you
I bet you think I don't know nothin'
But singin' the blues
Oh sister, have I got news for you
I'm somethin'
I hope you think that you're somethin' too
Scufflin', I been up that lomesone road
And I seen a lot of suns goin' down
Oh, but trust me
No low life's gonna run me around
So let me tell you somethin' sister
Remember your name
No twister, gonna steal your stuff away
My sister
Sho' ain't got a whole lot of time
So shake you shimmy,
Sister
'Cause honey I sure is feelin' time

"Encontre uma mulher com um cérebro. Todas elas têm vaginas."

A coisa começou quando eu postei no Instagram essa imagem retirada de um perfil de arte que eu achei interessante, o @other__perspectives:


Uns curtiram, mas duas pessoas, Lara e Otávia, vieram levantar a questão do machismo implícito nesse tipo de mensagem. Então reli a frase, considerei o ponto de vista das duas e então reconsiderei o meu próprio. Segue o que foi discutido, e fica o convite para outras e outros se juntarem à roda e darmos continuidade a essa discussão saudável, que só faz contribuir com a quebra de formas engessadas de perceber e de pensar nossa sociedade, e com a abertura para visões provavelmente mais realistas, justas e saudáveis. Vamos conversar?



Eu para @tavimmonaco: Tavinha, é verdade, se formos parar pra pensar, a afirmação é de cunho extremamente machista e provavelmente remonta a épocas em que só os homens trabalhavam fora e eram remunerados, enquanto às mulheres restavam as tarefas de casa e a lida com as crianças, coisas que elas faziam (e ainda fazem) de maneira cordata e gratuita por achar que este é mesmo o seu papel na sociedade. Pouquíssimas questionavam esse "papel" lá pela década de 30, 40, 50, e a maioria acabava se submetendo a esse abuso moral, a esse estupro moral que é a crença machista de que o homem pensa mais e pensa melhor. É maravilhoso ver o pioneirismo de Marie Curie na ciência, de Amelia Earhart na aviação, na defesa dos direitos das mulheres e na literatura, de Cecília Meireles e Rachel de Queiroz na ABL, da maravilhosa Chiquinha Gonzaga como pianista e compositora, da jornalista e escritora Nellie Bly nas reportagens investigativas, com grande destaque na investigação das denúncias de brutalidade e negligência no Hospital Psiquiátrico para Mulheres na Ilha Blackwell... Mas o grande problema é que eu vejo muitas mulheres corroborando esse pensamento machista porque "homem gosta é de loira, peituda, magra", e chegam mesmo a passar por cima do seu próprio ideal de beleza pra se encaixar nos moldes daquilo que os homens vão gostar, que os homens vão aprovar, que os homens vão escolher... sabe? Eu acho essa questão toda muito complexa, porque o que antes era machismo, hoje já virou uma questão de amor próprio, de autoaceitação, de entender que "eu sou gordinha mesmo mas esse é o meu biotipo, e eu não preciso passar fome, me matar na academia por três horas diárias, desenvolver anorexia ou bulimia, mudar a cor do cabelo e dos olhos porque é assim que eles vão me aceitar e me desejar e me escolher", sabe? E daí surge a "loira burra" que na verdade passa muito longe de ser burra e só quer ser aceita e desejada dentro dos padrões que os homens estabelecem, e isso vira um ciclo doentio que vai se retroalimentando e não pára nunca. O problema de grande parte das mulheres está bem longe de ser burrice, na minha opinião. A coisa vai direto no ponto mais fraco: o coração. O amor próprio. O desejo de se encaixar em padrões estúpidos, onde peitos e bundas são colocados em pedestais. O desejo de se sentirem desejadas. Aceitas. E amadas.

E segue a conversa:

E aí, o que vocês têm a dizer sobre o assunto? Comentem!

sábado, 18 de novembro de 2017

De toadas e de redenções

Sobre quando não cabe mais tristeza dentro de você, mas de repente essa música linda chega no vento da madrugada, como o sopro de um anjo, e conforta e traz toda a esperança de que você precisa pra seguir... Não sei quem é você aí do outro lado, mas obrigada... obrigada... obrigada...

"Toada"
Boca Livre
1979

Vem, morena, ouvir comigo essa cantiga
Sair por essa vida aventureira
Tanta toada eu trago na viola
Pra ver você mais feliz

Escuta o trem de ferro alegre a cantar
Na reta da chegada pra descansar
No coração sereno da toada, bem querer

Tanta saudade eu já senti, morena
Mas foi coisa tão bonita
Da vida, nunca vou me arrepender

Morena, ouve comigo essa cantiga
Sair por essa vida aventureira
Tanta toada eu trago na viola
Pra ver você mais feliz

Escuta o trem de ferro alegre a cantar
Na reta da chegada pra descansar
No Coração sereno da toada, bem querer
Tanta saudade eu já senti, morena
Mas foi coisa tão bonita
Da vida, nunca vou me arrepender

Vem...morena.
Vem...morena.
Vem...morena.
Vem...morena.
Vem...morena.

Vem... morena, ouve comigo essa cantiga
Sair por essa vida aventureira
Tanta toada eu trago na viola
Pra ver você mais feliz

Escuta o trem de ferro alegre a cantar
Na reta da chegada pra descansar
No coração sereno da toada, bem querer


sábado, 11 de novembro de 2017

"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver"

"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas."
__ Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas

Registro meu do trabalho do fotógrafo norte americano Michael Lundgren no FIF 2015

Sabe o que realmente me incomoda? Exaspera? Entristece? É gente que se acha. Gente que se acha superior. Mais esperto. Mais inteligente. Mais talentoso. Mais capaz. Gente que acredita que flutua níveis acima do resto da humanidade. Gente que te trata feito uma mosquinha irritante daquelas que a gente abana a mão e espanta pra lá e pronto. Abuso. Isso, também, é abuso moral. Ainda que de forma velada. 

Quando morei em Belo Horizonte, em 2015, tive a grata oportunidade de ver toda a mostra do FIF (Festival Internacional de Fotografia) daquele ano, dividida entre vários espaços culturais da cidade. Neste ano, parte da mostra veio a ser exposta aqui em Ipatinga, e novamente fui ver. Registrei tudo mas ainda não tive oportunidade de postar. Bem, o fato é que em 2015 uma fotografia em específico me chamou muito a atenção. A princípio, a certa distância, pela beleza das cores e formas. Só quando me aproximei e entendi do que se tratava a imagem foi que me veio o choque, o horror, o nojo. Mas aquilo era absolutamente fascinante e eu não conseguia desviar os meus olhos da fotografia, nem por um segundo sequer. Fiquei ali, hipnotizada, presa a um limbo de horror, de beleza e de fascinação. Aquilo era a mais crua morte. Aquilo era a mais bela e cruel expressão dos ciclos da vida sobre esta terra. 

Me lembrei então das palavras de minha mãe, de nossas conversas sobre vida, espiritualidade e ciência. Se você parar para pensar, ela me disse um dia, todo o processo da morte é muito bonito. E eu disse bonito, mãe? Bonito como? Você percebe como a natureza é perfeita? Ela me perguntou. É um ciclo perfeito e muito bonito de renovação, tudo isso. O nascimento, o nosso tempo de viver, de aprender, de crescer, de criar e de amar, e então voltar à terra de onde viemos, e nosso próprio corpo já carrega em si todo o material biológico necessário para se transformar e consumir aquele corpo sem vida que já não tem mais a utilidade que tinha antes, mas que vai alimentar outras espécies de vida e auxiliar na criação de outras espécies ainda. Tudo isso num equilíbrio maravilhoso, num ciclo eterno de criação, destruição e renovação. Como o lindo deus indiano Shiva, eu pensei. O mais poderoso dentre todos os deuses cultuados pelos hindus. 

A fotografia dessa raposa morta, em estado de putrefação, crua, violenta, escancarada e em belos tons de verde faz parte da série "Matter", de Michael Lundgren, fotógrafo norte americano. Para mim, a fotografia mais bela e significativa de toda a mostra. Aquela que nos sacode, que nos desperta, que diz ei!, quem é que você acredita que é, afinal? 

Somos todos filhos da mesma Terra, todos iguais em nossas capacidades, apenas sujeitos a coordenadas de espaço e de tempo diversas e, portanto, a diferentes estágios de nossa evolução. Abaixe essa cabeça! Pare de viver em função do seu próprio umbigo! Desça desse pedestal imaginário que você construiu sobre fundações de ilusão, com argamassa de absinto e tijolos de sonho e alienação. Somos humanos, somos iguais e estamos aqui para evoluirmos juntos. E no fim de toda essa nossa existência terrena, seremos exatamente como essa raposa morta, verde e putrefata, e daremos lugar a tantos outros que ainda virão. E se tivermos muita sorte, não seremos esquecidos. Humildade. Compaixão. Amor. Estas são as "moedas de troca" que realmente possuem valor nesta vida. Quando você for essa raposa verde, todo o seu orgulho e toda a sua pose de nada terão valido a pena.