segunda-feira, 27 de novembro de 2017

"Encontre uma mulher com um cérebro. Todas elas têm vaginas."

A coisa começou quando eu postei no Instagram essa imagem retirada de um perfil de arte que eu achei interessante, o @other__perspectives:


Uns curtiram, mas duas pessoas, Lara e Otávia, vieram levantar a questão do machismo implícito nesse tipo de mensagem. Então reli a frase, considerei o ponto de vista das duas e então reconsiderei o meu próprio. Segue o que foi discutido, e fica o convite para outras e outros se juntarem à roda e darmos continuidade a essa discussão saudável, que só faz contribuir com a quebra de formas engessadas de perceber e de pensar nossa sociedade, e com a abertura para visões provavelmente mais realistas, justas e saudáveis. Vamos conversar?



Eu para @tavimmonaco: Tavinha, é verdade, se formos parar pra pensar, a afirmação é de cunho extremamente machista e provavelmente remonta a épocas em que só os homens trabalhavam fora e eram remunerados, enquanto às mulheres restavam as tarefas de casa e a lida com as crianças, coisas que elas faziam (e ainda fazem) de maneira cordata e gratuita por achar que este é mesmo o seu papel na sociedade. Pouquíssimas questionavam esse "papel" lá pela década de 30, 40, 50, e a maioria acabava se submetendo a esse abuso moral, a esse estupro moral que é a crença machista de que o homem pensa mais e pensa melhor. É maravilhoso ver o pioneirismo de Marie Curie na ciência, de Amelia Earhart na aviação, na defesa dos direitos das mulheres e na literatura, de Cecília Meireles e Rachel de Queiroz na ABL, da maravilhosa Chiquinha Gonzaga como pianista e compositora, da jornalista e escritora Nellie Bly nas reportagens investigativas, com grande destaque na investigação das denúncias de brutalidade e negligência no Hospital Psiquiátrico para Mulheres na Ilha Blackwell... Mas o grande problema é que eu vejo muitas mulheres corroborando esse pensamento machista porque "homem gosta é de loira, peituda, magra", e chegam mesmo a passar por cima do seu próprio ideal de beleza pra se encaixar nos moldes daquilo que os homens vão gostar, que os homens vão aprovar, que os homens vão escolher... sabe? Eu acho essa questão toda muito complexa, porque o que antes era machismo, hoje já virou uma questão de amor próprio, de autoaceitação, de entender que "eu sou gordinha mesmo mas esse é o meu biotipo, e eu não preciso passar fome, me matar na academia por três horas diárias, desenvolver anorexia ou bulimia, mudar a cor do cabelo e dos olhos porque é assim que eles vão me aceitar e me desejar e me escolher", sabe? E daí surge a "loira burra" que na verdade passa muito longe de ser burra e só quer ser aceita e desejada dentro dos padrões que os homens estabelecem, e isso vira um ciclo doentio que vai se retroalimentando e não pára nunca. O problema de grande parte das mulheres está bem longe de ser burrice, na minha opinião. A coisa vai direto no ponto mais fraco: o coração. O amor próprio. O desejo de se encaixar em padrões estúpidos, onde peitos e bundas são colocados em pedestais. O desejo de se sentirem desejadas. Aceitas. E amadas.

E segue a conversa:

E aí, o que vocês têm a dizer sobre o assunto? Comentem!

4 comentários:

  1. Preguiça de voltar pro face, então comento aqui mesmo. A frase é realmente machista, mas a ideia não exatamente. Só que ao ter pego a ideia do "não se relacione com alguém fútil, e sim com alguém que tenha conteúdo", "se relacione com o coração, não só com o sexo" e colocado só para mulheres virou mesmo uma frase machista. Mas daí mesmo que se comente sobre isso ainda vem toda a problematização do que é ser ou não fútil, etc, etc. Tudo problematizado, até as soluções. Minha opinião é essa.

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  2. Hahaha, é beeem por aí mesmo, é a tal "ponta do novelo" que eu mencionei. Se a gente mexe num canto, cai uma pilha de problema. Vai mexer no outro, cai outra pilha. Esse mundo todo tá vivendo de se equilibrar em pilhas de sujeira, aquelas que não damos conta de varrer pra baixo do tapete, eu eu fico aqui imaginando quando é que as coisas vão enfim desmoronar...

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    1. Pior: fico imaginando o que vai ser do mundo quando as pilhas desmoronarem.

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    2. Não é? Tanta coisa e tantas visões de mundo e da sociedade entrando em colapso... estamos preparados pra lidar com todas essas questões?

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