terça-feira, 29 de setembro de 2015

A cigana e a louca

Até hoje a minha música favorita de um dos grupos de música flamenca e cigana mais queridos da minha vida. Apesar de que colocar "flamenco" e "cigano" na mesma frase implica em um certo pleonasmo, sendo que o primeiro nasceu do segundo. Esse grupo, que se formou em 2000 e que, apesar dos boatos do seu término, continua em atividade, é formado por ciganos calóns, aqueles que se desenvolveram na região da Andaluzia, na Espanha, e criaram as bases do flamenco como ele é conhecido hoje. Muitas coisas nas músicas deles são ditas em romani, a língua cigana oficial. Inclusive no início dessa música. O vídeo é meio louco, mas o que é que não tem loucura no título, ou no meio, e que não ressoa direto aqui no coração e na alma? rs
.
.


Essa vai para um anjo calón chamado Renzo, que sempre me cumprimentava com um "Optchá Lucita!", e me contava coisas incríveis sobre a vida e sobre os lugares onde ele já havia passado, tudo com uma sabedoria e uma maturidade imensas, que eu sempre achei que não cabiam em alguém que só tinha vinte e três anos de idade. Ele que vinha me falar coisas em romani, só para me ver morrendo de curiosidade e de raiva pela minha própria ignorância em relação à língua dele, mas que depois traduzia tudo com muita paciência, sem deixar de dar risada da impaciência que era minha. Ele que gostava tanto de compor rumbas ao violão, e que um dia veio me contar da ideia genial que teve, de colar moedas em toda a frente do instrumento, e da sensação de ter ficado deslumbrado com o resultado super artístico e estiloso do próprio trabalho, só para depois sentar-se com o violão a postos e descobrir que tinha modificado todas as propriedades musicais e ressonantes do instrumento, e que o violão agora já não tocava mais nada. E todo aquele desespero para retirar moedinha por moedinha, e eu, apesar de sentida por ele, não conseguia deixar de dar risada daquela situação insólita. Ele que decidiu cair na estrada outra vez há exatos sete anos, deixando para mim apenas uma música e uma mensagem gravadas, e nunca, nunca mais deu notícias. Só soube que ele tinha ido com um grupo para a Bolívia, e depois mais nada. Tu não sabes a falta que fazes, querido Renzo. Espero, aqui do fundo do coração, que estejas bem, e que eu ainda ouça falar de ti, nesta nossa vida louca que dá tantas, tantas voltas. Que estejas bem. 

"O céu é o meu teto, a terra é a minha pátria, e a liberdade é a minha religião."

Nenhum comentário:

Postar um comentário