sábado, 10 de outubro de 2015

Linhas Paralelas

Estou no meu lugar favorito aqui no Parque Municipal de Belo Horizonte. Aquele laguinho de peixes tranquilo, com uma cachoeirinha que faz um barulho gostoso, relaxante, e leva embora todo o estresse, e alivia, por alguns instantes, toda a dor que eu possa estar sentindo. Hoje, penso em ti. Em como talvez gostasses de ver este lugar. Os peixes. A cachoeira. E ficar junto, em silêncio, só olhando e sentindo, na companhia um do outro. Hoje penso em tudo o que poderia ter sido. Penso em universos paralelos, e nas mancadas do destino. Como naquele livro de Paul Auster. Penso em quantos universos paralelos existem por aí, seguindo condenados, e separando, debochados, as mentes e os corações dos mais de sete bilhões de seres humanos que caminham sobre esta Terra infeliz. Penso em linhas paralelas, tão semelhantes entre si, mas destinadas a um eterno, amargo desencontro. Esses erros imperdoáveis da existência. Essa vida que parece tão sábia, mas que afasta, implacavelmente, duas almas que são como espelhos uma para a outra. "Você, que me continua". 

All these torn, fucking torn mornings. 

Mas penso que, mesmo nas aulas de matemática e desenho geométrico, aprendemos que duas linhas paralelas se encontram no infinito. Que pode ser nunca. Mas que também pode ser sempre. Sabes? Como naquele conto de Caio Fernando Abreu. Aquele, de que tanto te falei.

O som da cachoeira me distrai. Me leva para longe. Me leva para perto de ti. Sintoniza-me? Pega no ar a minha frequência? Pensar em ti é a única maneira de estarmos juntos: aqui dentro da minha mente. "I think I made you up inside my head". Penso que, no fim, tudo é mesmo um sonho. Dentro do sonho de outra pessoa. Dentro de um outro sonho, e de um outro ainda, e mais outro, e nada tem fim. Sabes? E que, por uma coincidência louca qualquer, eu estou no teu sonho. E tu estás no meu. Talvez tenhas sempre estado nele. Lá, desde o princípio. Mas eu ainda não me dava conta. 

É outubro outra vez. São dois anos agora. Dois anos desde que te reencontrei. Os dois primeiros anos do resto das nossas vidas incompletas, presas, aqui dentro, entre uma parede e outra da minha mente. Os dois primeiros anos de quantas vidas houverem para ser sonhadas. De todas as minhas vidas. De todos, todos os meus sonhos.

É, talvez tenhas estado sempre na minha mente. Antes mesmo que eu me lembrasse. De qualquer coisa que fosse. E das certezas que eu tenho, a mais bonita é a de que sempre estarás nela. Ainda que seguindo linhas paralelas. Em mundos paralelos. E ainda que o infinito seja nunca. Não importa, meu amor: eu te reencontrei.

Hoje estou aqui no meu lugar favorito do Parque Municipal de Belo Horizonte. Aquele laguinho de peixes, com uma cachoeirinha que faz um barulho gostoso e relaxante. Estou só. Mas penso em ti. Penso em ti. Penso, sempre, em ti.

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Ouvindo: Janis Joplin, Little Girl Blue

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