sábado, 10 de outubro de 2015

Impressões: 50 Tons de Cinza

Impressões: 50 Tons de Cinza (Sam Taylor-Johnson, 2015)
Fevereiro de 2015

Domingo eu fui ver o 50 Tons de Cinza. Eu estava entre esse e o Sniper Americano, do Clint Eastwood, que eu estava louca pra ver (muito mais por ser do Clint do que pela história), mas a curiosidade em relação ao 50 tons me venceu. E tem tanta coisa pra falar a respeito que eu nem sei por onde começar... Aliás, sei: quem reparou nas Bachianas nº 5, para soprano e 8 violoncelos, do compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos tocando na cena em que Anastasia vai pela primeira vez ao apartamento de Grey? Magnífico. O máximo do bom gosto. O filme me ganhou ali. Grey nem precisava ser músico, fã de Chopin e ainda por cima piloto (perdão pelos spoilers)!

Segundo: infelizmente não tive tempo de ler o livro, como gostaria de ter feito, antes da estreia do filme (e não só por causa dele). Quando ouvi falar pela primeira vez de Fifty Shades of Grey, há uns dois anos, eu não tinha a menor ideia do que seria isso. Cheguei mesmo a perguntar ao amigo que mencionou esse título se aquilo seria alguma editora americana. Constrangido, ele desconversou e não respondeu. Poucas horas depois, google devidamente utilizado, morri de vergonha por conta da minha pergunta. Tinha estado meio afastada da internet, de tudo enfim, por quase um ano, por culpa de uma depressão. Mas logo entendi, também pelo tom que aquele amigo usou, que essa obra super festejada por um número impressionante de leitores não era bem vista por quem era do meio literário. Quanto a isso, reservo-me o direito de não entrar em detalhes, porque há muitos anos defendo com todas as minhas forças a literatura e a cultura de massas em geral. Os Best Sellers. Os Blockbusters. Tudo. É cultura também. E está sendo consumida até por quem não tem o hábito de consumir cultura. É o que interessa. Isso é uma vantagem indiscutível. As pessoas estão lendo mais. A sociedade como um todo está ganhando e, muito aos pouquinhos, evoluindo lá do seu jeito. Ponto. Não interessa se E. L. James nunca chegará aos pés de um Rimbaud, ou de um genial Gabriel García Márquez. Quem acha uma coisa dessas ruim é o tipo de pessoa que quer ficar confortável lá no seu mundinho a parte, tendo a frágil e risível ilusão de estar se sentindo melhor do que todo o resto do mundo enquanto pessoa. Sem saber que especial, de verdade, é estar em contato com o milagre que é cada ser humano, seja ele quem for, venha ele de onde vier. E fazer a verdadeira riqueza surgir de cada encontro, de cada mistura, de cada toque, palavra ou olhar. Perdão, tudo isso foi para dizer que sou absolutamente a favor de que best sellers como esse apareçam cada vez mais e, por que não?, cheguem às telas de cinema. Bom, não tive a oportunidade de ler a trilogia antes de ver o filme, mas gostei do filme. É bem feito, envolvente, juro que não te faz bocejar em momento algum, Anastasia é linda, Grey é gato, sexy e tem um corpão, a fotografia é boa, a trilha sonora, então, com Villa-Lobos, Chopin e aquele cover de Crazy in Love da Beyoncé que eu amei? Nem comento. Foi muito bem produzido, a história é muito interessante, e a minha nota pra esse filme foi 7/10, porque não tinha como dar 7.5, e uma nota 8 o colocaria no mesmo patamar de muitos dos meus filmes favoritos de todos os tempos, e aí, realmente, não é pra tanto. Agora um pouco do que eu penso sobre a história: de cara a minha impressão foi de que E. L. James tinha lido A História de O., de Pauline Réage, tinha se interessado muito e acreditado que se escrevesse alguma coisa no mesmo estilo, mas acrescentando um boa dose de romance e outros elementos óbvios de best sellers, dando uma boa modernizada na coisa toda, conseguiria um produto que atrairia uma quantidade impressionante de pessoas interessadas. Não sei se foi bem assim. Não sei se ela se inspirou realmente no livro de Pauline Réage, ou se só curtia o tema mesmo e misturou a ele os elementos óbvios de best sellers e tal. Só sei que a coisa toda deu muito certo. Dou os parabéns a ela. E para quem se interessa pelo tema dominação, acredito que a leitura de A História de O. seja, tipo, obrigatória. Li no ano passado e gostei muito, apesar de ter dito a várias pessoas: "this is not my thing", "não curto muito esse tipo de coisa". Mas leiam. É uma ótima leitura. No cinema, existe pelo menos uma outra obra que também trata do assunto: o francês "A Pianista", de Michael Haneke (o mesmo diretor do maravilhoso "Amour" e de "A Fita Branca"), do ano de 2001. Recomendo.


Quanto à ala das feministas chatas que querem proibir 50 Tons de Cinza e todos os livros de Bukowski: a dominação pode ser praticada tanto por homens quanto por mulheres. Por favor, informem-se melhor antes de criticar e condenar. Quanto a proibir Bukowski, olha, acho sinceramente que anda faltando uma boa quantidade de bebida e de sexo na vida de vocês. Vão lá fora viver um pouquinho primeiro, depois voltem e procurem reformular as teorias furadas de vocês.

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