quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Impressões: Que Horas ela Volta?

Impressões: Que Horas ela Volta?
Outubro de 2015

Então, enfim fui assistir ontem ao filme tão comentado e já tão premiado... e tenho algumas coisas a dizer sobre ele. Além dos elogios incontáveis, vi por aí alguns comentários neutros, ou mesmo um pouco negativos sobre ele. E a questão é que eu não entendo os dois últimos. Que Horas ela Volta? é de fato um filme bem feito, e tocante em vários momentos. Especialmente para aqueles que, como eu, têm memórias afetivas liga das ao tema.

Até os meus nove ou dez anos, pelo que me lembro, muitas "ajudantes", como nós as chamávamos, passaram por nossa casa. Nunca fomos uma família de condições, mas éramos cinco crianças muito ativas e cheias de energia, e tanto meu pai quanto minha mãe precisavam trabalhar fora. Não havia opção. Luxo para nós, naquela época, seria um deles acabar deixando o trabalho para ficar apenas por conta dos filhos. Então me lembro, com muito carinho, de todas elas. Da atenção, dos cuidados e dos carinhos, das brincadeiras de esconde esconde e chicotinho queimado, daquela primeira plantinha que cuidamos juntos, colocando um grãozinho de feijão sob um algodão molhado e observando com curiosidade e carinho a plantinha surgir e se desenvolver a cada dia. A ajuda com as tarefas da escola. As coisas gostosas que elas faziam para comermos. Tudo. Tudo. E foi com extrema receptividade e carinho que eu assisti a este filme. Achei muito bem conduzido, leve e dramático na medida certa, e achei todos, repito, todos os personagens bastante bem trabalhados. E fui bastante cativada pela maioria deles. 


Regina (Val, a empregada e babá), sempre dominando a cena, em tudo o que faz. Quem conheceu o início de sua carreira, como atriz, sabe bem disso. Duas cenas me arrepiaram, de verdade: a cena linda que Regina protagoniza na piscina, e logo depois ao telefone, com a filha, e a cena em que descobrimos, junto com ela, quem é, afinal, o menino Jorge.
Carlos, o pai, frustrado em relação às suas aspirações e sonhos, e lidando com todas as questões críticas da meia idade, o que o filme já deixa bem claro quando ele aparece em uma cena, mostrando seus quadros a Jéssica enquanto usa uma camiseta preta com nome de bandas da atualidade, como Arcade Fire e Kings of Leon. Bárbara, a esposa e patroa, atravessando muitas questões parecidas, e escondendo toda a sua insegurança em relação ao marido e ao filho atrás de uma falsa força e de uma agressividade que funciona muito mais como um tipo de defesa do que como um traço real de sua personalidade, ainda que ela tente, com algum efeito, ser compreensiva e até mesmo doce em algumas cenas. Fabinho, com todas as questões próprias da sua idade, sobre sexualidade, sobre uma carência que não encontra resposta na própria mãe, apesar das tentativas desta, e todas as questões sobre a escolha da faculdade, sobre qual caminho seguir, sobre o que fazer da própria vida, que cobra dele, nesse momento, uma resposta, uma decisão. Jéssica, que quer o mundo, com toda a sua vitalidade, e que não está errada por querer lançar-se nele e ganhá-lo. E com quem me identifiquei tanto, com todo aquele seu sonho de estudar Arquitetura, que também sempre foi muito meu, desde os meus quinze anos de idade, quando passava todas as minhas tardes livres vendo revistas de arquitetura, engenharia, decoração, design e paisagismo, desenhando, desenhando, ouvindo música e projetando enlouquecidamente.


Enfim, Que Horas ela Volta? é, sem dúvida alguma, um ótimo filme, e ainda coloca em questão uma situação que precisa e merece muito ser discutida, sobretudo de maneira tão veemente, nas telas das salas de cinema. Foi capaz de me envolver e de me emocionar, e sem dúvida vou estar aqui torcendo por ele nas próximas premiações que vierem por aí.

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