sábado, 15 de agosto de 2015

Sobre escolhas e manipulação

Estava conversando online com uma amiga essa semana, e surgiu um tema que eu senti necessidade de discutir para além do tópico de facebook em que estávamos nos comunicando. Eu admiti que assistia o canal da Globo, um ou outro programa, ou partes de programas. E logo pensei comigo: que espécie de medo deveria ter eu de consumir notícias supostamente manipuladas e tendenciosas (muitas o são de fato) e algum eventual entretenimento? Será que eu não vou saber filtrar dali o que me interessa, o que me faz bem, o que não representa para mim uma perda de tempo? Será que eu não vou ser capaz de ser crítica e de levar comigo somente aquilo que for realmente interessante e edificante de alguma maneira? Será que a minha capacidade crítica, será que o meu discernimento andam assim tão falhos?

Admiti que vejo, sim, o telejornal da tarde na Globo. E gosto. Acho leve, âncoras simpáticos, clima bem humorado, matérias variadas. Ora, se os telejornais e a programação televisiva são manipulados e tendenciosos, bem como muitos veículos de informação impressa, sinto informar que a política é também um meio inteiramente manipulado, todo e qualquer tipo de propaganda é igualmente uma tentativa descarada de manipulação, e durante a maior parte do seu tempo existe algum tipo de manipulação tentando agir sobre você. A questão não é nem procurar fugir de toda essa estratégia, porque praticamente não se tem mesmo escolha: é optar por aquela que mais lhe convém, ou melhor: aquele tipo de manipulação que menos vai lesar você, depois de tudo colocado na balança.

A gente não está aqui para ser servida, entretida, adulada, satisfeita, o mundo não tem nos provado de maneira alguma que essas são as funções dele. A lei que impera ainda é a lei da selva, do "eu ganho e você perde", ainda não se descobriu um jeito de fazer isso de maneira que todos saiam ganhando. As ferramentas que lá no início eram tacapes, armas brancas, armas de fogo, hoje em dia se sofisticaram e estão aí implícitas na economia, na política e na sociedade em geral em forma de estratégias, verbais ou não, em forma de manipulação, pura e simples. E enquanto não conseguirmos uma maneira de viver sozinhos e de fabricar nosso próprio consumo, todo ele, vamos ter que nos sujeitar sim a várias formas de manipulação, desde o poder econômico e político até a escolha de tudo o que consumimos, sejam as opções ruins, péssimas ou piores ainda. Ou sejam elas, com sorte, eventualmente boas ou até excelentes. 

E aí é que entra o nosso poder de escolha. É nesse âmbito que se revela o nosso poder. Extremamente limitado e castrante, é verdade. Mas ainda assim é o poder de que dispomos, e não podemos e não vamos abrir mão dele. O poder de julgar, de criticar e de fazer escolhas com base nos resultados. Ora, somos seres que pensam de maneira crítica, que são capazes de ouvir uma notícia e analisar aquilo ou somos meras esponjas esparramadas na frente da tevê? Basta colocar o senso crítico para funcionar. Ninguém aqui tem oito anos de idade mais. E até essa meninadazinha de sete, oito anos, já tem espírito crítico desenvolvido e com certeza não sai por aí acreditando em qualquer papai noel que vê na tevê ou na esquina. 

Não acredito que a maneira mais sensata e vantajosa de agir seja colocar vendas dos lados dos olhos e decidir não ver o que está aí, mas ver, sim, criticar o que vê, filtrar e usar aquilo que foi filtrado a nosso favor. De maneira que eu vejo, sim, alguns telejornais. Leio Veja quando me cai alguma nas mãos. Leio, leio de tudo. Leio muito. Escolho entre Seara, Friboi, Pif Paf, ora, a escolha é um direito meu, por mais que as propagandas procurem me manipular. E acontece da mesma maneira com a informação. Eu é que escolho se vou aceitar bovinamente tudo o que me é passado através da tela de uma tevê, ou se vou resolver me posicionar de maneira crítica em relação a todos os estímulos que chegam até mim.

Eu, pessoalmente, confio plenamente na minha capacidade crítica, no meu bom senso, na minha capacidade de discernimento e na minha inteligência, de maneira que eu me sinta algo segura para fazer as escolhas que eu preciso fazer a cada minuto. O caminho não é limitar, não é atrofiar, não é mutilar ou afunilar. O caminho, na minha opinião, é ampliar possibilidades e aumentar o campo de visão, aumentando, em consequência, a quantidade daquilo que podemos julgar, analisar e escolher. Ampliando dessa forma a oferta e também o nosso poder de escolha. Então, que venham as notícias tendenciosas e manipuladas. Risos.



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