sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Resenha: We Should All Be Feminists

Resenha: We Should All Be Feminists, Chimamanda Ngozi Adichie
Agosto de 2015

Chimamanda é tão linda, por dentro e por fora, mas tão linda, em sua maneira de se expressar, em suas ideias, que eu nem sei por onde começar a comentar esse curto livro baseado numa palestra dada por ela numa conferência anual em dezembro de 2012. Pra começar, logo de cara me senti ligada a ela por sermos contemporâneas. Ambas do ano de 77. Boa safra, risos. Dela até agora só tinha lido Hibisco Roxo, e ficado encantada com sua escrita e sensibilidade. O próximo será o aclamadíssimo Americanah. Estou super curiosa e ansiosa em relação a ele. Mas, pra começar a falar um pouquinho sobre o que achei das ideias de Chimamanda sobre feminismo, quero falar um pouquinho da minha própria experiência com o tema.

Foi muito cedo na minha vida, ainda criança, que eu descobri que era feminista. Que tinha ideias extremamente feministas. Se alguém dissesse algo levemente machista na minha frente, lá vinha eu me intrometer na questão com ideias que eu julgava certas, apropriadas e coerentes com o nosso tempo que, afinal, visivelmente não era mais a idade média já fazia um tempinho. Se meu pai estivesse na roda, ele já avisava à vítima: "cuidado que essa aí é ferrenha, hein!" No que eu achava graça. E era mesmo. Cheguei mesmo, por volta dos 17 ou 18 anos, a esboçar e começar a escrever um livro que tinha o machismo e o feminismo como temas centrais, ambientado no século XIX. Era sobre uma moça inteligente que queria estudar, não se casar, ser livre e correr o mundo, mas o pai obviamente se opunha às ideias e vontades dela. Acabei abandonando a história pela metade, como dezenas de outras que eu havia começado, quando a depressão entrou e se instalou na minha vida. Mas o fato é que o feminismo sempre esteve aqui no meu sangue, circulando nas minhas veias e por todo o meu corpo. Nunca fui daquelas radicais. Radicalismo não é a minha, nunca foi. Sempre estive em busca de visões de mundo mais centradas, equilibradas. Talvez eu ainda escreva aquele livro, aproveite uma ou outra ideia, descarte algumas, quem sabe? De volta a Chimamanda. Que vontade que me deu de destacar aqui mil trechos do que ela escreveu sobre o tema! Que clareza de pensamento, que sensatez, que mente privilegiada ela tem! Nem o bom humor lhe falta!

"Em 2003, escrevi um romance chamado Hibisco roxo, sobre um homem que, entre outras coisas, batia na mulher, e sua história não acaba lá muito bem. Enquanto eu divulgava o livro na Nigéria, um jornalista, um homem bem-intencionado, veio me dar um conselho (talvez vocês saibam que nigerianos estão sempre prontos a dar conselhos que ninguém pediu). Ele comentou que as pessoas estavam dizendo que meu livro era feminista. Seu conselho — disse, balançando a cabeça com um ar consternado — era que eu nunca, nunca me intitulasse feminista, já que as feministas são mulheres infelizes que não conseguem arranjar marido. Então decidi me definir como 'feminista feliz'. (...) De qualquer forma, já que o feminismo era antiafricano, resolvi me considerar 'feminista feliz e africana'."

"E se criássemos nossas crianças ressaltando seus talentos, e não seu gênero? E se focássemos em seus interesses, sem considerar gênero?"

"Algumas pessoas me perguntam: 'Por que usar a palavra ‘feminista’? Por que não dizer que você acredita nos direitos humanos, ou algo parecido?' Porque seria desonesto. O feminismo faz, obviamente, parte dos direitos humanos de uma forma geral — mas escolher uma expressão vaga como 'direitos humanos' é negar a especificidade e particularidade do problema de gênero. (...) Uma vez eu estava falando sobre a questão de gênero e um homem me perguntou por que eu me via como uma mulher e não como um ser humano. É o tipo de pergunta que funciona para silenciar a experiência específica de uma pessoa. Lógico que sou um ser humano, mas há questões particulares que acontecem comigo no mundo porque sou mulher. Esse mesmo homem, a propósito, com frequência falava da sua experiência como homem negro."

"A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar nossa cultura."

"Sou feminina. Sou feliz por ser feminina. Gosto de salto alto e de variar os batons. É bom receber elogios, seja de homens, seja de mulheres (cá entre nós, prefiro ser elogiada por mulheres elegantes)."

Eu também, Chimamanda. Eu também. O mais engraçado é que, de todos os elogios e olhares que já recebi, dos dois gêneros, mas na maioria esmagadora, de homens, o que mais me deixou realmente lisonjeada foi o olhar demorado que ganhei na rua de uma mulher que eu achei super linda, bem vestida, estilosa e muito elegante. O tipo de mulher que eu quero ser na vida. Se ela era lésbica, se era bi, não interessa. E aqui não vem ao caso que, por acaso, eu seja bi. De verdade. A questão é que ela era exatamente o que eu tenho por modelo de beleza. Esse tipo de elogio, sim, valeu por todos os outros que já ganhei na vida. O que nos leva ao fato de que não, as mulheres não se vestem em função dos homens. Ao menos comigo não é assim. Posso afirmar de mim mesma exatamente o que Chimamanda afirma de si: "O 'olhar masculino', como determinante das escolhas da minha vida, não me interessa."

Por fim, penso em minha mãe, na pessoa linda, talentosa e brilhante que ela era. E então entendo de onde vieram meus primeiros pensamentos feministas. Minha mãe não foi radical, não queimou sutiã na praça, não parou de se depilar (gente, pra que mesmo esse radicalismo todo? Alguém se sente realmente bem fazendo essas coisas e vivendo dessa forma? É isso mesmo que significa feminismo? O feminismo não deveria visar justamente o respeito às questões da mulher e seu bem estar?). Não, ela não foi dessas radicais, mas sabia se colocar no mundo do jeito dela, com base em tudo o que ela acreditava. Sabia se respeitar. Gostava de cabelo curtinho, como eu gosto. E os usou durante toda a juventude, até se casar. Casou-se no civil e na igreja, como convém a uma boa moça, sim. Mas se casou de vestido preto no civil. E de vermelho escuro na igreja. Um escândalo na época, e até mesmo ainda hoje. Minha mãe foi minha primeira heroína. Meu primeiro modelo de mulher independente, segura, moderna, uma mulher que se respeitava. Foi, e sempre, sempre será. Onde quer que esteja agora.

Pra finalizar, este livro nos traz uma excelente notícia: 

"Eleito um dos dez melhores livros do ano pela New York Times Book Review e vencedor do National Book Critics Circle Award, Americanah teve os direitos para cinema comprados por Lupita Nyong’o," ( Emoticon heart ) "vencedora do Oscar de melhor atriz por Doze anos de escravidão."

Agora é aguardar mega ansiosamente para ver a história nas telas!

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