domingo, 15 de outubro de 2017

Tempo, tempo, sempre, o tempo

"Go tell that long tongue liar
Go and tell that midnight rider
Tell the rambler, the gambler, the back biter
Tell 'em that God's gonna cut 'em down..."

Ano passado eu não coloquei as luzes de Natal na frente da casa. Com a correria toda, típica de final de ano, não deu tempo, não deu.

Nas férias de julho eu queria ter ido à praia, terminar de escrever um livro, fazer oferendas à mãe Iemanjá, me perder numa caminhada tranquila, com os pés na água, acompanhando a orla e sentindo a maresia no finalzinho da tarde. Surgiu trabalho extra, eu não podia deixar de pegar. Não tive tempo de ir. Também não deu.

Há duas semanas passei a ter crises de insônia por falta de certa medicação. Meus horários ficaram todos desregulados, perdi a hora da psicóloga, perdi o horário do banco, perdi o compromisso com a irmã, uma coisa atropelou a outra e até a festa de aniversário da amiga eu perdi. Compro sempre uns biscoitinhos coloridos pro cachorro da vizinha, que amo como se fosse meu. Essa semana não comprei, não deu.

Há dois dias perdi o prazo de entrega de um trabalho. Milhões de coisas na cabeça, no coração, clima tenso em casa, afastamento de uma amiga imensamente querida, falecimento do pai de outra, correria, estresse extremo beirando síndrome de burn out, joguei tudo pro alto, não deu tempo, não deu. 

Ontem fui andando até o supermercado da esquina. Tropecei em algo, parei, olhei: até partes do meu corpo agora eu estou perdendo. No chão alguma coisa brilhava, me abaixei e peguei. Não era só o brinco, mas toda a orelha direita. 

À noite fui sozinha a um bar, precisava, precisava beber, desopilar. Pois lá perdi um pedaço do fígado e uma porção mal passada de memória. Não vi o tempo passar. Voltei tarde, alguém podia me assaltar. Ah, tempo, tempo, já me tiras até o ar.

Hoje acordei e não me lembrei. De quê? Já nem sei. Levantei da cama e fui até o banheiro preparar um pouco de café. No caminho o coração caiu do peito, rolou para trás da porta, sumiu por ali. Não achei. Será que rolou para perto dos teus pés? Não sei, não sei.

Agora precisei adiantar o relógio em uma hora. Horário de verão, sabe como é. Estava aqui deitada, tentando escrever algo pelo celular, mas daqui a pouco já tenho compromisso, perdi uma hora, já não vai dar, não vai dar.

Procuro me apressar, mas as palavras começam a me faltar, a me faltar, me desespero eu sei que não vai dar. E agora já me falta, de fato, até o ar. 

Ticking away my time ran away my mind ran away my heart ran away and I think I have lost, I have lost, I have lost my way. What could I ever do, what could I ever say? 

Eu não sei,
não, eu não sei.


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