sexta-feira, 20 de março de 2015

Trânsito

"Ai, Ricardito, essas breguices que você me diz."
(Mario Vargas Llosa, Travessuras da Menina Má)

Hoje eu me apaixonei.

Atravessava, com passos rápidos, de quem sabe bem onde quer chegar, a extensão do Parque Municipal Américo Renné Giannetti. Ele passou por mim, também apressado. Alto, bonito, charmoso, barba bem cuidada, bem vestido. Usava um terno. Sempre fui louca por homens bem vestidos, ou usando um bom terno. Então, nossos olhos se encontraram. E não se largaram. Por longos segundos, como se um estivesse reconhecendo o outro. De outro lugar, de outro tempo, quem saberia dizer. E importa? Nos olhamos, sérios num primeiro momento. Que olhos. Então, quase sem perceber, me desarmei e me abri num sorriso, meio encantada, meio envergonhada. Ele sorriu de volta. Um sorriso aberto, desses que se refletem nos olhos, e convidam. Sorri uma vez mais, e senti que o fazia com um certo brilho nos olhos, com sinceridade plena, com uma entrega própria daqueles que reencontram algo de valor inestimável, há tempos perdido. Continuamos a sorrir e a nos olhar, completamente alheios a qualquer outro tipo de trânsito. Até que um passou pelo outro. O trânsito despertou, seguiu. Abaixei a cabeça, e ri sozinha, pela delícia daquele momento, daquele encontro que nenhum dos dois previu. Então, me virei para vê-lo uma última vez. Não queria deixá-lo ir embora. E vi que ele tinha se virado, e também me olhava de volta, sorriso aberto e convidativo. Sorri outra vez, com a boca, com os olhos, com a alma, com o corpo inteiro. Não sei quanto tempo durou. Não sei por que não parei, por que ele não parou, por que não nos aproximamos e nos abordamos. A chance se foi. Mas por um minuto eu fui dele. Por um minuto ele foi meu. Por um minuto, o resto do mundo parou. Por um minuto, tudo fez sentido.

* Texto escrito em 10 de março de 2015.

3 comentários:

  1. Já pensou quantos amores passam por nós... mansos, descompassantes, ternos, chamejantes... São estes pequenos instantes em que o amor se explica, se aplica, se expande, até virar sorriso instantâneo... é literalmente o tal eterno enquanto dure.

    Amei o texto! Continue esta volta pois você anda me fazendo olhar com menos sisudez para a minha "roça" natalícia... e isso é bom! rs

    Bjo, Lú!

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  2. E quantos amores possíveis a gente nem vê passar, né, Cris... por pensar em outro, por stress, por andar de cabeça baixa, por uma razão qualquer... mas mesmo esses que passam e que duram menos de um minuto são tão deliciosos e gratificantes, que fazem a gente voltar a acreditar na vida outra vez... Aos pouquinhos, estou voltando a acreditar... Um beijo, querida! Já respondo sua mensagem no facebook! rs

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  3. Aliás, "minha "roça" natalícia" foi maravilhoso, hahahaha! Admita, vá, BH tem seu charme, todo especial!

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