quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Ataque e retaliação não são meios inteligentes de "diálogo"

Tinha me decidido a ficar afastada da internet por uns três dias, cuidando de questões pessoais, mas depois das notícias que correram hoje, não consegui e não consigo ficar em silêncio. Desde o sábado está rolando algo que de minha parte reprovo completamente, e que segundo fontes que não sei se são confiáveis, partiu da página Dilma Bolada. Houve um boicote que acabou por retirar do ar páginas de conteúdo machista, entre outros, como a Orgulho de Ser Hétero. Acontece que intolerância gera mais intolerância, e todo ataque traz implícito algum tipo de retaliação. O que acontece é que estão trabalhando para retirar do ar, em massa, páginas alinhadas com a ideologia da página que deu início a essa confusão toda. Em especial páginas declaradamente feministas. Devo fazer cara de quem está surpresa com o resultado? Nessa "brincadeira" já foi a Jout Jout, as páginas Feminismo Sem Demagogia, Moça, Você é Machista e várias outras seguindo essa linha. E agora à noite acessei o Twitter e descobri que estão tentando fazer o mesmo com o blog da Lola Aronovich, o Escreva, Lola, Escreva, que acompanho desde o seu início. Lola diz, em seu blog, estar sendo ameaçada de morte, estupro e desmembramento, além de tudo. É óbvio que o meu lugar é do lado das feministas, tenho ideias absolutamente feministas desde que me conheço por gente. Apesar de reprovar certos radicalismos do movimento, como por exemplo procurar banir livros e filmes que sugiram a mais leve possibilidade de misoginia, sem levar em conta a época e o contexto social das obras em questão. Mas o que penso disso tudo é que parece que as guerras da pré-história e da Idade Média foram transportadas pro ambiente da internet. Se é pra regredir o cérebro e o comportamento, por que não adotam os tacapes como armas logo de uma vez, e voltam a usar gravetos secos pra fazer fogo? Ora, será que alguém neste mundo está pensando A SÉRIO que é assim que as coisas irão ser resolvidas? Como se estivéssemos num jardim de infância, como se jamais houvéssemos atingido a idade adulta, ou sido tocados por qualquer espécie de razão? Precisamos de um amplo espaço de discussão, em que todos estejam dispostos a falar suas verdades, suas opiniões, e a ouvir a opinião dos outros. É assim que a democracia funciona, mas parece que nossa sociedade se esqueceu disso. A internet é um excelente meio para se criar esse espaço de discussão, talvez o melhor dos veículos, um dos mais abrangentes. Mas ainda não aprendemos a utilizá-la a nosso favor, a retirar dela tudo de positivo que ela nos oferece. ATAQUE E RETALIAÇÃO NÃO SÃO MEIOS INTELIGENTES DE "DIÁLOGO", E NADA TRAZEM DE BOM. E só geram mais e mais retaliação. É preciso aprender a dialogar, e especialmente a respeitar a ideologia de cada um. Se um homem curte a página Orgulho de ser Hétero, o que é que eu posso fazer além de procurar dissuadi-lo e apresentar a ele ideias que considero mais adequadas, vantajosas e inteligentes? E se ele não concordar com essas ideias? Aí é deixá-lo pra lá com toda a ideologia equivocada dele. Porque quem vai estar perdendo é ninguém menos do que ele próprio. Cada um com sua cabeça. Cada qual com sua sentença. Já diziam nossos avós. Sim, nós feministas devemos procurar mostrar à sociedade uma maneira mais justa, vantajosa para ambos os lados, e mais inteligente de se viver nesta sociedade. Mas que seja de uma forma clara e, tanto quanto possível, pacífica. Ataques e retaliações só irão atrair mais ataques e retaliações. Agora que a merda já foi feita, agora que o diálogo já foi vergonhosamente deixado de lado, o que nos resta a fazer é resistir e entrar de vez, e de peito aberto, nesta guerra que já estourou de qualquer forma, e não é de hoje. E levantar nossa bandeira o mais alto possível. Deixo aqui todo o meu apoio à Jout Jout e à Lola Aronovich, e a todas as páginas feministas que estão aí, firmes, resistindo lindamente. E espero que em algum momento, ainda que em uma outra era, venhamos a aprender a resolver as coisas através do diálogo, e que o bom senso e a razão venham, enfim, a imperar.


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