Há exatos dois anos eu jogava no feed do facebook:
"Você me pergunta pela minha paixão. Digo que estou encantada com uma nova invenção."
E até onde posso me lembrar, 2015 foi o ano mais conturbado, confuso, louco e doloroso de toda a minha vida, depois daquele 2004... Eu realmente não sei como fui capaz de me organizar internamente, cabeça e emoções, enquanto o país atravessava uma forte crise econômica que me afetou demais e me trouxe de volta a Ipatinga, muito, muito a contragosto. E por aqui ainda encontrei mais crise e mais dificuldades, de todos os tipos.
Entrei num processo depressivo que se refletiu nos meus hábitos, na minha escrita, na minha aparência, na minha auto-estima, no meu trato com as pessoas, na minha família, no afastamento dos amigos. Precisei mudar para um médico mais barato, mas igualmente muito bom, apenas adepto a um método, digamos, mais rígido, do tipo "terapia de choque". Mas eu estava lá, firme apesar de tudo. E meu pai sempre ao meu lado. Meu grande exemplo, meu norte, meu porto seguro, a pessoa que mais admiro e amo nessa vida. Absolutamente admirável em toda a sua extrema inteligência, sensibilidade, talento, valores, ética, honradez, absurdamente grandioso em toda a sua humildade e simplicidade, sempre criticando esse meu "ar de princesa que alimenta a minha dor, de onde você tirou?". Realmente não sei. Quando mais nova eu gostava de brincar dizendo que na encarnação passada eu tinha sido uma princesinha espanhola que fugia do castelo todas as noites para dançar com os ciganos em volta da fogueira no acampamento. Vai saber. Vai saber. Eu, sempre esse desvio da norma, desde criança, www ponto ovelhanegra ponto com.
As dificuldades nunca cessaram, muito pelo contrário, e ainda ontem eu dizia a meu pai que há vários anos rezo para que não me tirem um único grama de peso de cima dos meus ombros, mas que me faça mais forte. Mais forte. Mais forte. E que essa força possa estar a serviço de outros. I do. I do.
Só sei que sigo apaixonada pela vida, dos menores detalhes às coisas mais grandiosas. Sigo apaixonada pela natureza, pelos animais, pela beleza que enxergo em todas as pessoas, e todas elas são belas, cada uma à sua maneira. Cada uma, um deus diferente. Li algo parecido num blog incrível essa semana. "Eu vejo você". Namastê. "O deus que habita em mim saúda o deus que habita em você".
Sigo apaixonada por esta vida louca, por esta montanha russa desgovernada, em fúria, ora tudo faz sentido, ora a gente fica tonto e se perde e de repente nada orna. Nada parece estar no lugar. Mas então você vê o sol se pondo, você vê toda a infinitude do mar, todo o amor incondicional de um cãozinho, você aprende algo novo, lê um bom livro ou vê um bom filme, vê uma companhia fantástica de dança se apresentando, repara em como aquela árvore florida está tão linda, apaixona-se pelos olhos e pelo sorriso de uma criança. E tudo faz sentido novamente.
E é bom estar vivo, é tão bom estar vivo aqui, agora, ver tudo de incrível que existe por aí, sentir o ar enchendo os pulmões e o peito pulsando, e se tudo estiver doendo muito, saber deixar o passado passar e perceber que existem tantos caminhos e tantas possibilidades e tanto ainda para amar e para viver e descobrir e sentir!
E você ainda me pergunta pela minha paixão? A vida. A vida. A vida. Por mais que muitas vezes doa tanto e oprima e sufoque e nos dilacere o peito e a alma a um ponto que nos faça cair de joelhos em prantos na madrugada e uivar de dor, como tantas vezes já me aconteceu: eu pago o preço. Eu pago todo o preço. Vale a pena. E no fim você vai ver que o fim do túnel não é o fim e que ele segue e a paisagem só fica mais bonita, porque você mesmo está mais forte e mais bonito e mais cheio de luz por dentro, de forma que vai estar preparado para ver cada vez mais beleza e sentido em tudo.
Apenas não desista no meio do caminho. Apenas siga. Acredite. Confie. O fim não chegou, e é bem possível que ele nem exista. Mas siga e confie. Vai ficar tudo bem. Tenha sempre, sempre em mente as sábias palavras de uma de nossas maiores pensadoras da atualidade:
"Continue a nadar... continue a nadar..."
* * *
P.S.: a fotografia que anexei aqui faz parte de um projeto delicioso chamado "Follow Me Project", de Murad Osmann, que ele fez com a esposa durante as viagens que os dois fizeram juntos. Vale muito a pena conhecer o projeto todo e também seguir o insta dele: @muradosmann ; )
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