Tive minha fase de poeta entre os dez e os treze anos. Não vingou. Já era perdidamente apaixonada por contar histórias desde os sete anos de idade, quando escrevi e ilustrei meu primeiro livrinho, e com ele ganhei uma medalha de primeiro lugar num concurso de literatura infantil promovido pelo SESI. Lembro perfeitamente a ansiedade e o orgulho dos meus pais, que no dia da premiação já sabiam do resultado, mas quiseram me fazer uma surpresa. E eu demorei a acreditar que era o meu nome que chamavam lá na frente. Engraçado como as coisas mais marcantes da minha vida aconteceram aos sete, aos dezessete, aos vinte e sete... Mas o caso é que em 2009 eu passava por uma fase longa de angústia e depressão intensas, quando a ideia pra um poema me veio um dia durante o banho, como em sussurros psicóticos. Como se eu tivesse febre e delirasse. Saí rapidinho do banho e anotei tudo. Queria intercalar frases que seriam sussurradas por duas entidades que de alguma maneira eram uma só, ou por um anjo e um demônio, cada um mergulhado em seu monólogo, mas juntos sob a luz de um palco. Eram frases intensamente otimistas misturadas a outras que eram justamente o oposto. Eu queria intercalar as frases, como numa disputa entre bem e mal, fazer com que a ideia como um todo fizesse algum sentido, e ainda usar rimas. Trabalho árduo e confuso. Risos. Desse caos total nasceu Split. Um poema que poderia ser lido linearmente, como um todo, ou só as linhas pares, e depois só as ímpares. Queria que essa dualidade ficasse clara, e me preocupei muito em terminar tudo com uma frase que fosse otimista. Porque apesar de qualquer depressão, sou alguém otimista por natureza, e acreditava muito em uma melhora. Em uma cura qualquer, e eu ainda não sabia exatamente de quê. Poucos meses depois, no princípio de 2010, eu seria diagnosticada como bipolar. Split então passou a ter para mim um sentido quase místico. Embora meu diagnóstico tenha sido corrigido há três meses para um Transtorno de Personalidade Borderline, e eu tenha ingressado oficialmente no time dos Borders, Split ainda faz todo um sentido pra mim. Ainda é, para mim, o que eu já escrevi de mais especial e significativo. E, sem dúvida nenhuma, o que mais me deu trabalho. Nunca foi publicado na rede, já que na época eu já tinha deletado meu blog Cena7, do que me arrependo muito, e ainda não tinha criado um outro. Split vai agora ter o seu momento "debut virtual".
O único problema é que a ideia pra esse poema me chegou em inglês, e em inglês ela foi executada. Ainda não fiz nenhum tipo de tradução, acho inclusive que daria mais trabalho até do que o próprio poema. Seria todo um outro poema. Mas um dia eu me arrisco e faço uma tradução. ;-) . . . split
down on her knees under daylight she lies she whispers and cries over her future and sees and shouts her lies and screams among flames on a calm, deep lake her fever is high so deep like her past it is so dark but still clear inside her like no one can hear hell, she lies when she cries to herself into this mirror every smile she fakes so she closes her eyes and it feels like she dies and she dreams among demons and madness she is an angel she is evil she is strong like Saturn and sphinxes she can do anything she is lost like Ismalia between day and night so she spreads her wings where Sun gives birth to Moon and flies, flies no light and no hope it feels like she is free and the voices won't stop she will find the cure no mercy, just half life a bright day she sees . . .
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